Sobre o medo e a cobiça por Struggle 20/10/2007 10:20:52 NOTÍCIA Vinte anos atrás, Bolsa de Nova York vivia a sua "segunda-feira negra"
MICHAEL MACKENZIE
DO "FINANCIAL TIMES", EM NOVA YORK
Vinte
anos atrás, em 19 de outubro, os operadores de mercados de ações e
investidores assistiram com "fascínio horrorizado" a uma queda de 22,6%
em uma única sessão, na Bolsa de Nova York.
Jamais houve um dia de
tamanha baixa, antes ou depois. O crash de 1987 foi marcado por uma
queda quase duas vezes maior que a perda diária mais alta registrada na
crise de 1929. Pouco admira que o dia seja relembrado como
"segunda-feira negra".
As reverberações se fizeram sentir em
mercados de todo o mundo. Ainda que muitos deles viessem a recuperar o
equilíbrio bem mais rápido do que as pessoas temiam, os acontecimentos
daquele dia mudaram fundamentalmente a maneira de pensar sobre como
funcionam os mercados de ações.
O crash se tornou o marco pelo qual
todos os períodos subseqüentes de agitação no mercado passaram a ser
medidos. Foi um momento supremo, no qual o medo superou a cobiça.
Restam em atividade muitos operadores e profissionais de investimento
capazes de rememorar vividamente aquele momento, em que o medo superou
a cobiça dos investidores. Duas décadas depois, a forma e os métodos de
negociar ações mudaram de muitas maneiras. Mas o fator humano,
caracterizado pelo medo de perder dinheiro ou de perder uma
oportunidade de lucro à medida que uma alta se alonga, continua a ser o
elemento combustível essencial dos mercados, aquilo que John Maynard
Keynes designava como "espírito animal".
"Uma crise gira acima de
tudo em torno de emoções humanas, cobiça e medo", diz Jim Paulsen,
estrategista-chefe da Wells Capital Management. "Os fundamentos não
mudam tanto assim. Colapsos e pânicos são uma história bem antiga. E
funcionam da mesma maneira em qualquer parte do mundo."
Inicialmente,
à medida que a "segunda-feira negra" se desenrolava, os operadores não
compreenderam plenamente a magnitude da crise em curso e presumiram que
haveria uma recuperação.
"Quando o mercado começou a cair, os
assistentes dos operadores brincavam dizendo que "é hora do bungee''",
diz uma pessoa que estava no pregão naquele dia. Mas a corda do bungee
se esticaria muito antes de voltar a arremessar o mercado para cima.
A
escala das vendas, cuja intensidade foi reforçada por programas
computadorizados de operações que lançavam novas ordens de venda a cada
vez que as ações derrubavam certas marcas de queda, era maior do que a
que os operadores e o sistema de transações baseado em papel e
telefones da Bolsa eram capazes de enfrentar. "As pessoas ficaram
chocadas por o mercado operar daquele jeito", afirma Anthony Conroy,
diretor da BNYConvergEx, que em 1987 estava no Lehman Brothers. "Quem
estava por aqui em 1987 e continua no mercado aprendeu a considerar os
investimentos com mais dureza. Tendo atravessado um declínio como
aquele, você certamente fica mais cauteloso." Paulsen, que em 1987
trabalhava em um banco de investimento, diz que ficou "mais fascinado
do que apavorado. Você tinha a sensação de que estava vivendo um
momento histórico".
Para Tobias Levkovich, estrategista-chefe no
Citigroup, 1987 marcou seu primeiro ano em Wall Street, como analista
júnior, e ele diz que a experiência o ensinou a ter "muita humildade".
A
empresa para a qual Levkovich trabalhava fechou poucos meses mais
tarde, e ele lembra uma sensação de assistir ao desenvolvimento da
história. "Era algo notável. Nós íamos à Bolsa para assistir ao
fechamento. As pessoas não conseguiam acompanhar o que estava
acontecendo."
Mas apenas dois anos mais tarde, o índice Dow Jones já
havia se recuperado. Nos anos subseqüentes, os investidores temiam o
próximo crash, à medida que as transações eletrônicas, o papel
predominante dos fundos de hedge e novos produtos como os derivativos
de ações transformavam Wall Street.
"A disseminação de informações
ficou tão mais rápida. Isso pode ou acelerar a mentalidade de rebanho
ou ajudar a dispersar essa espécie de risco", diz William Strazzullo,
da BellCurve Trading.
Depois de 1987, limites de transações e
sistemas de paralisação automática foram introduzidos com o objetivo de
esfriar as coisas em caso de novo colapso. Sempre que o índice composto
da Bolsa de Nova York se movimenta em 150 pontos ou mais em relação ao
pregão anterior, as transações conduzidas por ordem de programas de
computador são suspensas. Uma queda de 10% resulta em suspensão
automática do pregão por uma hora, como forma de prevenir pânico. O
mecanismo só foi utilizado uma vez, em 1997, durante a crise financeira
asiática.