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 A questão é: quanto vale o seu futuro?

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PostSubject: A questão é: quanto vale o seu futuro?   A questão é: quanto vale o seu futuro? Icon_minitimeSun Aug 12, 2007 10:32 pm

A questão é: quanto vale o seu futuro?

Fred Melo Paiva - O Estado de S.Paulo


- Eduardo Giannetti da Fonseca quase perde a estréia dele próprio na televisão. Hoje à noite, em algum lugar entre a voz do Cid Moreira e o figurino do Zeca Camargo, ele estará no Fantástico inaugurando um novo quadro do programa - uma série de dez episódios cujo título coincide com o de seu último livro: O Valor do Amanhã (Companhia das Letras, 2005). Até anteontem, Eduardo Giannetti estava na Rússia. Passou antes pela Finlândia, Suécia, Noruega. Tudo a passeio. Em São Petersburgo, ponto final da sua viagem, concluiu que os russos pensam demais em dinheiro - uma obsessão que, na visão dele, só encontra paralelo com o Brasil. "São países encrencados."

Eduardo Giannetti voltou ontem , "não para assistir ao Fantástico, mas para dar aulas na segunda-feira". Economista e filósofo de primeira grandeza, é autor de oito livros em que mistura suas especialidades como se o conhecimento de uma não sobrevivesse sem a outra. Está agora com a mão na massa, preparando dessa vez um "livro de citações". Mineiro de Belo Horizonte, 50 anos redondos, é professor de História do Pensamento Econômico nas Faculdades Ibmec de São Paulo, onde vive. Ph. D. pela Universidade de Cambridge, Giannetti é um economista raro - um sujeito capaz de dispensar o economês, esse esperanto dos que lidam com os mistérios do mercado financeiro.

Sua incapacidade de se fazer desentender explica a vocação que Eduardo Giannetti tem para alcançar públicos improváveis. Um exemplo: convidado pelo Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, promoveu leituras de Adam Smith para alunos do ensino público de Diadema e São Bernardo. Aos sábados. E nunca faltou quórum. Tem desafio semelhante ao se arriscar no Fantástico com o intuito de "plantar a semente da dúvida na cabeça do espectador".

De São Petersburgo, na Rússia, Giannetti concedeu ao Aliás a seguinte entrevista:

O que vamos ver hoje no "Fantástico": o filósofo ou o economista?

Vocês verão uma tentativa de integrar os dois, além de um terceiro elemento: o tratamento estético refinado, que vai traduzir argumentos e conceitos em imagens. Serão dez episódios, abertos sempre pelo ator Matheus Nachtergaele, que interpretará algumas fábulas - A Cigarra e a Formiga, Adão e Eva, Ulisses e as Sereias, Romeu e Julieta. Cada uma delas vai nos apresentar a seguinte situação de escolha no tempo: é melhor viver agora e pagar depois, ou pagar agora e viver depois? Em outras palavras, há duas posições que uma pessoa pode assumir: a de credora, na qual ela aceita um sacrifício agora tendo em vista um benefício futuro; ou a posição de devedora, em que aceita abrir mão de alguma coisa mais à frente, para ter algo desde já. Tomei muito cuidado para não moralizar a questão. Também não vou prescrever nada. Estou na postura socrática de tentar plantar a semente de uma dúvida na cabeça do espectador: será que as minhas escolhas refletem os meus valores e o meu projeto de vida?

Não corre o risco de parecer que um importante pensador brasileiro está flertando com a auto-ajuda?

Eu brinco que o programa é o avesso disso, porque não vai dar receita, mas provocar o pensamento - todo episódio irá terminar com uma pergunta, justamente para se plantar a semente da dúvida. Eu me interessei por fazê-lo porque a questão das escolhas no tempo precisa ser mais refletida no Brasil. Tanto no plano do comportamento individual, como no do coletivo. Porque, independentemente da reflexão, o País tem feito escolhas que refletem os valores da nossa cultura e o seu projeto de nação.
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PostSubject: Re: A questão é: quanto vale o seu futuro?   A questão é: quanto vale o seu futuro? Icon_minitimeSun Aug 12, 2007 10:32 pm

O brasileiro dedica-se pouco a planejar o futuro?

Vivemos uma cultura cujo centro de gravidade está calcado no "aqui e agora". A razão histórica disso é que somos resultado da confluência de três outras culturas extremamente imediatistas. Como dizia Sérgio Buarque de Holanda, o colonizador ibérico veio para encontrar o paraíso e não para construí-lo, a exemplo do que aconteceu na América do Norte. Ele trouxe a noção do desfrute imediato e predatório. Por outro lado, nossa formação passa também pelo africano submetido à escravidão, o que deturpa terrivelmente a psicologia temporal. À medida em que não era dono nem de seu próprio corpo, não havia nada que o escravo pudesse fazer para melhorar seu futuro. Por fim, somos fruto da cultura indígena, adaptada a um meio em que se vive um momento de cada vez - é o ambiente da caça e da coleta, onde não há sequer a agricultura organizada, que é um enorme exercício de planejamento e ação inteligente no tempo. O encontro desses vetores só poderia produzir uma nova cultura fundamentada no imediato.

Quanto nós devemos sacrificar do presente em nome de um futuro melhor?

Isso depende, primeiro, do ciclo de vida em que a pessoa está. Cada etapa da existência humana tem uma psicologia própria e uma maneira de perceber o tempo. Depende também das perspectivas. Se você tem um longo horizonte pela frente e vive em uma sociedade com instituições sólidas, que te permitem agir no presente com vistas ao futuro, então vale mais a pena o sacrifício agora em favor do amanhã. Mas, se você é um jovem morando em um morro carioca, submetido à violência, suas perspectivas diminuem - não há condição objetiva de agir no tempo fazendo sacrifícios em nome de benefícios remotos. Então, tudo depende de circunstâncias, instituições, fases da vida, valores individuais. Tem um exemplo para isso que é curiosíssimo. Nas semanas que se seguiram aos atentados de 11 de setembro, nos Estados Unidos, o consumo de produtos dietéticos despencou. Caiu também a demanda por spas. As pessoas ficaram com tantas incertezas com relação ao futuro, que não viam sentido em abrir mão de prazeres que podiam desfrutar no presente.

No Brasil, a carga tributária é imensa, mas seus benefícios sociais são tímidos. A classe média paga por saúde e educação, mas tem de usar planos de saúde e escolas particulares. A CPMF, criada para ser provisória, vai se tornando definitiva. As promessas que não se cumprem reforçam a idéia que não vale a pena fazer sacrifícios pensando no futuro?

Este é outro elemento a contribuir com a cultura do imediato. Com relação à carga tributária, porém, o que mais me preocupa é que uma fatia muito grande da sociedade brasileira acaba sendo empurrada para a informalidade, onde não há condições de planejar o futuro de uma maneira minimamente generosa. Ao contrário, vive-se com enorme precariedade e com um horizonte de tempo muito curto. Mais da metade da população economicamente ativa do Brasil não tem uma situação regular de emprego. Isso torna a economia brasileira uma caricatura, muito mais parecida com uma selva do que com uma verdadeira economia de mercado. Nesta, há um arcabouço de regras, leis e instituições que permitem exatamente essa sofisticada ação inteligente no tempo, visando muitos anos à frente. Mais da metade da nossa população não pode ter relação de crédito, não pode aparecer publicamente. Tudo por causa do tamanho opressivo da carga tributária. Indo além, o Estado brasileiro não cabe no PIB brasileiro. E isso encurta o horizonte de tempo das nossas escolhas.

O brasileiro com carteira assinada ainda confia na Previdência Social?

O banco HSBC fez há pouco tempo uma pesquisa internacional sobre poupança previdenciária. O Brasil aparece como o país em que o maior número de pessoas ainda conta com a provisão estatal de previdência - e com a maior intensidade. Isso mostra que não acordamos para a realidade. Olhando para a coletividade brasileira, há três pontos que evidenciam claramente nossa dificuldade de antever o futuro e de agir consistentemente na sua construção. O primeiro deles é o descaso com o ensino fundamental. Capital humano é uma troca no tempo - implica sacrifícios feitos agora para colher benefícios lá na frente. Os Estados Unidos, ex-colônia como nós, universalizaram o ensino fundamental em 1890. O Brasil completou esse movimento, a duras penas, com um século de atraso, na década de 1990. Um segundo ponto diz respeito à destruição do meio ambiente. A natureza é um patrimônio de todas as gerações, presentes e futuras. Mas muitos de nós estão consumindo esse patrimônio de modo irreparável. É como vender a prata da família para jantar fora. Por último, a questão da previdência: nossa imprevidência previdenciária talvez não tenha paralelo no mundo. Somos um país de estrutura etária jovem que gasta 13% do PIB com pagamentos de benefícios previdenciários. Só que 13% do PIB é o que gastam os países europeus mais maduros demograficamente. Só o déficit da previdência do funcionalismo público brasileiro é maior do que todo o gasto do Estado com o ensino fundamental. Acontece que são 3 milhões de funcionários públicos aposentados e 37 milhões de crianças de 7 a 14 anos freqüentando a escola pública. Um país que comete uma enormidade dessa está se condenando à miséria e à ignorância perpétua. Ao invés de estar investindo no futuro, está desinvestindo num passado de esbanjamento. A Constituição de 1988 transformou funcionários públicos seletistas em pessoas com direito a aposentadoria em regime especial. Esse é o tamanho do rombo que aparece agora. Isso, em um certo sentido, foi o extermínio do futuro do Brasil. E, como se viu na pesquisa do HSBC, a sociedade brasileira ainda acha que o Estado será capaz de prover tudo.

Para mudar esse cenário, bastam decisões de governo?

Nosso governo não é tão diferente da nossa sociedade quanto gostamos de imaginar. Ele apenas reflete o que somos. O grande contraponto a tudo isso é também não desprezar a capacidade que temos de desfrutar o presente e viver intensamente as oportunidades que a vida oferece. Aquilo que sempre surpreende o olhar estrangeiro: como um país de vida material tão precária consegue manter a chama da alegria e do vigor? A grande utopia brasileira é conquistar a capacidade dos povos civilizados de agir inteligentemente no tempo sem perder essa disponibilidade para o momento e para o desfrute dos prazeres. Freud escreveu O Mal-estar na Civilização. Nossa utopia é a civilização sem mal-estar. O risco é o pesadelo que corresponde a ela - para usar a expressão de Rousseau, o risco é perdermos o doce sentimento da existência e não alcançarmos o conforto e a segurança. Então será o mal-estar - mas sem a civilização.

Da utopia para o pé no chão: por que se diz hoje que a aquisição de um imóvel não é bom investimento para o futuro?

Se você for nas periferias das grandes cidades brasileiras, o imóvel é a única poupança que existe. Para a massa da sociedade, a casa própria ainda é o grande sonho. Pena que ela direcione todo o seu esforço poupador para a aquisição de bens materias, ao invés de aplicar em capital humano. É uma diferença marcante entre nós e os asiáticos, que assim têm tirado da pobreza sua população. Para uma pequena camada mais rica, há outros investimentos - bolsa de valores, renda fixa, hedge funds. Agora, como estamos caminhando para uma taxa civilizada de juros monetários, há uma grande novidade no Brasil: aquele sujeito que vivia de renda, que antes dava um telefonema, fazia sua aplicação e não precisava mais pensar no assunto, esse tipo está acabando. A vida do rentier brasileiro que quiser manter seus padrões terá certamente novos desafios.

Essa semana foram anunciados lucros recordes dos maiores bancos brasileiros, o que tem muito a ver com crédito pessoal e financiamento para compra de automóveis. Em entrevista ao "Aliás", há 2 anos, você classificou esses lucros como "imorais". Continua pensando da mesma forma?

Os bancos estão em ambiente fortemente competitivo e jogam dentro das regras da economia. É lamentável apenas que as linhas de crédito no Brasil estejam crescendo como crédito ao consumidor e não ao investimento.
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PostSubject: Re: A questão é: quanto vale o seu futuro?   A questão é: quanto vale o seu futuro? Icon_minitimeSun Aug 12, 2007 10:33 pm

Para o banco, é melhor que sejamos compradores de carros do que poupadores?

O banco vive da intermediação entre credores e devedores. O que existe no Brasil é uma poupança pequena e uma demanda muito grande por crédito. Para os bancos, esse cenário acaba sendo um grande negócio. O que acho verdadeiramente intrigante é existir tanta gente no País que se coloca na seguinte situação: o sujeito tem uma aplicação financeira e uma dívida no mesmo banco. O que ele recebe de juros numa ponta é a fração do que vai pagar na outra. Rasgar dinheiro não é diferente disso. Com clientes assim - e são dezenas de milhares, talvez milhões -, não é só o banco que ganha dinheiro. É qualquer um de nós que decida entrar nesse negócio.

Você acusou os bancos de imoralidade por "empurrar" linhas de crédito às pessoas.

Nesse ponto é verdade. Mas o que mais agride hoje meu sistema nervoso é o que fazem as redes de varejo no Brasil. É uma maluquice, quer dizer, uma maladrangem. Eles não mostram o preço à vista - e criam uma situação para parecer que ele é igual ao valor parcelado em 20 ou 30 vezes. Em qualquer lugar do mundo, preço à vista é diferente de preço a prazo. Logo no Brasil, com as taxas de juros que temos, o preço é o mesmo? O que se faz é embutir os juros no preço à vista e criar a impressão de que ele é igual à soma das parcelas. Estão sonegando do consumidor brasileiro a informação verdadeira e salutar, evitando que ele tome ciência do que significa abrir um crediário. No fundo, boa parte do varejo no Brasil é apenas um conjunto de financeiras disfarçadas.

Como analisa a atual turbulência dos mercados financeiros ao redor do mundo?

Há cerca de 10 anos, tivemos um aumento brutal da liquidez, que são ativos financeiros buscando oportunidades de retorno. O banco de investimentos americano J. P. Morgan estima que, de 2000 para cá, esses ativos aumentaram em US$ 3,9 trilhões. Houve também um enorme boom de crédito. Estamos vivendo uma bolha gigantesca, talvez monstruosa, de liquidez. As recentes agitações dos mercados financeiros mostram que talvez esteja chegando no limite esse processo descontrolado de oferta e expansão do crédito em escala global. Por trás disso, temos os Estados Unidos, que sugam poupança do mundo; e, por outro lado, dois grupos de países altamente poupadores - os asiáticos de alto crescimento e os produtores de petróleo. Assim, um setor está consumindo e despoupando, enquanto outro gera enormes massas de dinheiro buscando rentabilidade. Como há muito recurso perseguindo ativos (reservas de valor com liquidez, como imóveis ou ações), o valor disso vai subindo. Mas, quando aparecem problemas, como os que tivemos com hedge funds de bancos americanos, as pessoas ficam assustadas. Começam a achar que seus ativos podem passar a valer menos do que antes. Ao tentarem fugir para ativos mais seguros - os títulos do tesouro americano -, provocam grande nervosismo. O que ninguém sabe direito é se as tempestades em Wall Street irão derrubar a Main Street, que é a economia real.

A economia é uma conversa que nem todo o mundo entende. Ao mesmo tempo, sua boa gestão define a qualidade do futuro de uma família ou de um país. O economista é em geral uma pessoa frustrada pela impossibilidade de se fazer entender?

Todo ser humano é um economista intuitivo, porque precisa fazer escolhas. O papel do profissional da economia é dar instrumentos para as pessoas refletirem. Os grandes economistas do passado imaginavam que o progresso libertaria a humanidade da escravidão da economia. O avanço da tecnologia, das ciências e da produtividade criaria um mundo em que as pessoas precisariam pensar cada vez menos em temas econômicos. Mas um dos grandes paradoxos do mundo é que quanto mais se avança no processo de desenvolvimento, mais obcecadas as pessoas ficam com a economia. O sonho do médico é que o paciente possa esquecer da sua saúde. Quando tem de pensar demais nela, significa que alguma coisa está errada. Na economia parece que isso não vale. Quanto mais evoluímos, mais ela se torna um valor central na existência humana.

Por todas as crises que passamos, o brasileiro médio entende mais de economia do que, por exemplo, um francês?

Me espanta a freqüência com que se fala em dinheiro no Brasil. Só encontrei algum paralelo aqui na Rússia. São países encrencados. No caso brasileiro, a desigualdade é um agravante. Ela aumenta o valor social do dinheiro. Para os que o possuem, porque dá a eles um enorme poder. Para os que não o possuem, porque estes acabam superestimando seu valor na solução de problemas da vida. É uma sociedade desequilibrada.


DOMINGO, 12 DE AGOSTO
Giannetti no ?Fantástico?

O economista e filósofo Eduardo Giannetti da Fonseca estréia hoje uma série de 10 episódios no Fantástico, da Globo. Com direção de Isa Ferraz (O Povo Brasileiro), o novo quadro baseia-se no livro O Valor do Amanhã, lançado por Eduardo Giannetti em 2005.


CONCEITO

"A economia brasileira é mais parecida com uma selva do que com uma economia"

FUTURO

"Consumimos a natureza de modo irreparável. É como vender a prata da família para jantar"

RAZÃO SOCIAL

"Boa parte do varejo brasileiro é um conjunto de financeiras Disfarçadas"
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